O título parece nome de uma história de suspense, mas não é.

Temos comentado sobre como os personagens de uma história podem não ser apenas pessoas, mas também “coisas”. O aclamado seriado “Bates Motel” (produção da Universal Television) foi um bom exemplo de como os automóveis tem personalidade e “contam histórias”. Através desses carros entramos sutilmente em outra narrativa, nas entrelinhas. A série utilizou dezenas de veículos para seus personagens, sempre com um propósito de complementar as características dos seus proprietários. Selecionamos alguns deles para comentar.

Norma Bates (Vera Farmiga) dirige um sedan Mercedes-Benz 280 SEL 1970 verde “resedá”, um tom de verde acinzentado na gama clássica de cores do padrão de cor RAL alemão. Um carro sóbrio, “vintage” que combina com o clima e decoração retrô/ sinistro da Mansão Bates. Diz muito também sobre sua personalidade complexa, conservadora, ligada à família e também ao fato de estar com a grana curta. Quando Norma “surta” e sai de casa, muda de personalidade, compra roupas provocantes para ficar sensual e atraente. Resultado, tem que mudar de carro. Troca a velha Mercedes por um Mustang vermelho, o símbolo máximo do “muscle car”, carro americano sexy e esportivo.

Dylan (Max Thieriot) tem uma caminhonete Ford F250 Super Duty azul novinha, que comprou com o dinheiro do tráfico. Além de servir para carregar a muamba, Dylan fica bonito na foto. Sonho de todo jovem de 20 e poucos anos, o carro representa auto-afirmação, masculinidade e força. Tudo que ele procura nesse momento.

O xerife Romero (Nestor Carbonell) usa uma viatura Chevrolet Tahoe daquelas preto e branco. Veículo de serviço “utilitário”, se impõe com as insígnias da polícia local e combina com seu caráter durão, homem de poucos sorrisos, que procura ser honesto e andar na linha mas acaba perdendo para seu temperamento impetuoso e explosivo.

A jovem Emma (Olivia Cooke) é a proprietária um Fusca. Carro pequeno, simples e barato, o Volkswagem Super Beetle 1976 combina com a personalidade frágil de Emma que sofre de fibrose cística e usa o carro para ir trabalhar no escritório do Motel. A cor laranja é o que dá um pouco de graça ao automóvel e à vida triste da moça.

O irmão de Norma, Caleb (Kenny Johnson), veio da Costa Rica e está sempre ameaçando ir embora. Sem lugar fixo pra morar, está sempre metido em algo ilegal. Simbolizando o espírito nômade, “pé-na-estrada”, Caleb tem um furgão-trailer Dodge Ram Van anos 80, branco e marrom, ideal para viajar e passar suas noites enquanto ajuda Dylan a construir sua cabana.

Sexy, esportivo, veloz, o Porsche 911 Carrera preto da misteriosa Anikka Johnson (Tracy Spiridakos) mostra que ela é poderosa e conquistou seu espaço.

O carro do ricaço da cidade Bob Paris (Kevin Rahm) representa sucesso e poder: uma Mercedes-Benz CLS preta. Sua presença impõe respeito – medo? – e quando chega não traz boas notícias.

Finalmente, Norman (Freddie Highmore) não tem carro nem licença para dirigir. No dia em que faria o teste para motorista, sua mãe o impede, alegando ao avaliador que o menino tem “apagões” e seria perigoso dirigir. Mais um pontinho pro garoto ficar ainda mais revoltado e surtar. Quando usa algum carro, é a velha Mercedes da mãe, metáfora perfeita para sua ligação doentia com Norma, seu transtorno psicológico, a psicose que o atormenta e altera seu comportamento de forma violenta.

Na sua próxima apresentação, lembre que não são apenas as pessoas que contam histórias, mas também objetos e produtos.