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mar 27
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Borges e a cor amarela

Um temporal inoportuno

Este pequeno e curioso texto explica um pouco a importância de se falar claramente para sua plateia na hora da sua apresentação corporativa ou de uma aula. Em ambientes pequenos, você tem a oportunidade de se aproximar das pessoas e ciar maior interação. Em ambientes grandes, com muita gente, o ideal e usar um bom microfone se certificar que todos estão o acompanhando.

Jorge Luís Borges andava sempre elegantemente vestido, acompanhado da sua bengala que lhe abria caminho na sua cegueira.

Mensalmente vinha a nossa Escola de Cinema em Santa Fé e dava uma aula que demorava cerca de uma hora e meia. Nenhum dos alunos queria perder sua aula. Nesse dia do mês de junho, seria a quarta aula do ano de 1959 e chovia torrencialmente.

A sala de aula era um anexo, em linguagem mais coloquial, era um puxadinho de uma repartição da Universidad Nacional del Litoral, onde funcionava também o Instituto de Cinema, onde eu me especializava em Direção de Fotografia.

Ninguém tinha pensado que o ruído da chuva no telhado de Eternit apagaria a suave, tímida e pausada voz do mestre.

A aula foi quase toda proferida com todos em pé e em volta dele, no maior silêncio para ouvir como ele tinha iniciado e o porquê de escrever El Alhep, história fantástica, que talvez seja a mais divulgada do escritor.

De repente o mestre parou, fez um breve silêncio e pergunto: “Vocês não tem um microfone?”.

Tínhamos, só que ninguém queria sair para trazê-lo e fazer a conexões. Aí foi negociado com Borges: ele parava, ficava em silêncio enquanto durava a operação instala-microfone.

Ele ficou estático, com o rosto levantado e apoiado na bengala, como quem olha para o infinito com seus olhos fechados pela escuridão da cegueira.

Sua secretária (ainda, a Sra. Kodama não existia na sua vida) se aproximou e pediu para continuar. Surpreendentemente, ele reiniciou fazendo um breve silêncio e fez uma pergunta a si mesmo agora, com sua voz amplificada e nós, acomodados em nossas carteiras “Como vocês explicariam como é a cor amarela a um cego?“. Todos perplexos.

A frase era para pensar. Então o mestre dissertou sobre a sua experiência da cegueira em um mundo que, no final dos anos cinquenta, começava a ser dominado pela imagem como previa a revista Time, que editou um livro com as melhores imagens daquele tempo, a maioria da própria revista e que seria um pouco a nossa bíblia dos grandes fotógrafos da época.

Hoje, isso não é mais possível, o mundo é absolutamente dominado pela imagem que nos é apresentada com diversas ferramentas. É melhor? É pior? Enfim, não sei, e não me faço essa pergunta existencial que não leva a nada. Porém, continuo sim, me perguntando a grande dúvida do Mestre Borges que nos obrigava a pensar e nos deixou no ar: como explicar o amarelo a um cego? Que talvez também, não tenha resposta, mas é fantástica, como a literatura do Jorge Luís Borges.

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